JORNAL DO COMMERCIO (PE)
10/3/2012
Avançamos pela segunda década do século 21, e o tom das celebrações no Dia Internacional da Mulher continua sendo o balanço das conquistas, frente ao longo caminho a ser trilhado no estabelecimento da igualdade entre os gêneros. No Brasil, apesar de termos uma presidente da República, a representação feminina nos Três Poderes é aquém do ideal, especialmente no Congresso e nas casas legislativas. Em Pernambuco e no Recife, além disto, a eleição de uma mulher para o cargo máximo do Executivo persiste um tabu. Como consolo, na cidade vizinha de Olinda, duas mulheres já ocuparam o posto de prefeita. A lentidão no processo de ocupação feminina traz algo de ineditismo todos os anos. Desta vez, a semana comemorativa para as brasileiras foi aberta com a notícia de que, pela primeira vez, uma mulher comandará o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante as eleições. A ministra Cármen Lúcia, que era vice-presidente do TSE, e integra o Superior Tribunal Federal (STF), assume para dois anos de mandato. Em seu discurso, Cármen Lúcia recordou o aniversário de 80 anos do direito de voto para as mulheres no País – para se ter uma ideia de como os direitos civis femininos custaram a ser cumpridos. Não faz nem um século que a mulher no Brasil pode votar. O decreto assegurando o voto feminino foi assinado em 24 de fevereiro de 1932, pelo presidente Getúlio Vargas. O atraso era da humanidade: somente no final do século 19, em 1893, um país, a Nova Zelândia, garantiria o sufrágio feminino. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, esse direito viria a ser confirmado em 1918 e 1919, respectivamente. Por incrível que pareça, um projeto de lei como o aprovado esta semana pelo Senado não perde a atualidade. Os senadores pretendem imputar multas às empresas que pagarem às mulheres salários inferiores aos recebidos pelos homens, na mesma função. Trata-se de reflexo de uma situação que perdura, na lista das vitórias realizadas pela metade: o mercado de trabalho, em diversas áreas, é cada vez mais um território preenchido e liderado por mulheres, mas a diferença salarial permanece como cruel lembrete de um tempo de discriminação e opressão que teima em se tornar águas passadas. A violência continua, em todos os estratos sociais, e os casos nas páginas policiais demonstram o quanto a transformação promovida pela revolução feminina pode ser lenta. Ainda que já tenha proporcionado importantes mudanças e melhorias no mundo forjado pela brutalidade masculina.
Como disse em entrevista à revista Época a escritora Camille Paglia, uma “dissidente do feminismo”, essas mudanças da emancipação feminina tiveram custos, numa sociedade “que espera que a mulher se comporte como homem e ainda seja capaz de amar como mulher”. O que o século 21 reserva para a espécie humana depende muito dos frutos da revolução das mulheres, cuja força está na graça e na esperança de uma visão de mundo que descortine novos e melhores horizontes para todos os seres humanos – longe dos erros cometidos no longo e pernicioso domínio de um gênero sobre o outro.
10/3/2012
Avançamos pela segunda década do século 21, e o tom das celebrações no Dia Internacional da Mulher continua sendo o balanço das conquistas, frente ao longo caminho a ser trilhado no estabelecimento da igualdade entre os gêneros. No Brasil, apesar de termos uma presidente da República, a representação feminina nos Três Poderes é aquém do ideal, especialmente no Congresso e nas casas legislativas. Em Pernambuco e no Recife, além disto, a eleição de uma mulher para o cargo máximo do Executivo persiste um tabu. Como consolo, na cidade vizinha de Olinda, duas mulheres já ocuparam o posto de prefeita. A lentidão no processo de ocupação feminina traz algo de ineditismo todos os anos. Desta vez, a semana comemorativa para as brasileiras foi aberta com a notícia de que, pela primeira vez, uma mulher comandará o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante as eleições. A ministra Cármen Lúcia, que era vice-presidente do TSE, e integra o Superior Tribunal Federal (STF), assume para dois anos de mandato. Em seu discurso, Cármen Lúcia recordou o aniversário de 80 anos do direito de voto para as mulheres no País – para se ter uma ideia de como os direitos civis femininos custaram a ser cumpridos. Não faz nem um século que a mulher no Brasil pode votar. O decreto assegurando o voto feminino foi assinado em 24 de fevereiro de 1932, pelo presidente Getúlio Vargas. O atraso era da humanidade: somente no final do século 19, em 1893, um país, a Nova Zelândia, garantiria o sufrágio feminino. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, esse direito viria a ser confirmado em 1918 e 1919, respectivamente. Por incrível que pareça, um projeto de lei como o aprovado esta semana pelo Senado não perde a atualidade. Os senadores pretendem imputar multas às empresas que pagarem às mulheres salários inferiores aos recebidos pelos homens, na mesma função. Trata-se de reflexo de uma situação que perdura, na lista das vitórias realizadas pela metade: o mercado de trabalho, em diversas áreas, é cada vez mais um território preenchido e liderado por mulheres, mas a diferença salarial permanece como cruel lembrete de um tempo de discriminação e opressão que teima em se tornar águas passadas. A violência continua, em todos os estratos sociais, e os casos nas páginas policiais demonstram o quanto a transformação promovida pela revolução feminina pode ser lenta. Ainda que já tenha proporcionado importantes mudanças e melhorias no mundo forjado pela brutalidade masculina.
Como disse em entrevista à revista Época a escritora Camille Paglia, uma “dissidente do feminismo”, essas mudanças da emancipação feminina tiveram custos, numa sociedade “que espera que a mulher se comporte como homem e ainda seja capaz de amar como mulher”. O que o século 21 reserva para a espécie humana depende muito dos frutos da revolução das mulheres, cuja força está na graça e na esperança de uma visão de mundo que descortine novos e melhores horizontes para todos os seres humanos – longe dos erros cometidos no longo e pernicioso domínio de um gênero sobre o outro.
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