quinta-feira, 22 de março de 2012

JUROS ALTOS DOS CARTÕES

ESTADO DE MINAS
22/3/2012

Se o governo pretende baixar o custo do crédito, é hora de focar no dinheiro de plástico

A presidente Dilma Rousseff está certa em determinar à sua equipe econômica que estude medidas para provocar a redução das taxas de juros cobradas pelo sistema bancário brasileiro. Enquanto o Banco Central acelera a redução dos juros básicos da economia, devendo baixar a Selic para 9% ao ano em 18 de maio, os bancos comerciais e financeiras continuam causando inveja a seus similares no mundo, ao impor spreads que levam o custo do dinheiro às alturas e engordam com eles seus lucros. Essa é, sem dúvida, uma das pedras no caminho de qualquer iniciativa oficial destinada a animar o investimento na estrutura produtiva do país, além, é claro, de inibir o consumo, com o qual se poderia mover a economia a ritmo mais acelerado e garantir a manutenção dos atuais níveis de emprego. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já sinalizou que o tamanho e a capilaridade do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal estão no foco desses estudos.
Se a ideia é baixar os juros praticados pelos dois bancos oficiais e, com isso, forçar uma queda generalizada do custo dos empréstimos e financiamentos às empresas e aos consumidores, então está na hora de o governo voltar suas baterias para a farra dos cartões de crédito. Não há estrangeiro que não se impressione – e muitos nem acreditam – ao saber que as taxas anuais cobradas pelo crédito rotativo disponibilizado pelos cartões podem chegar a impensáveis 237,9%. Segundo levantamento da Proteste, entidade defensora de direitos do consumidor, essa taxa é de longe a mais alta da América Latina e corresponde a quase cinco vezes a da Argentina, que fica em segundo lugar, com 50% ao ano. Em seguida vem o Chile, com 40,7%, e o México, com 36,2%. Na Venezuela, de Hugo Chávez, os juros do cartão são em média de 29% ao ano e na Colômbia, 28,5%. Nem vale a pena comparar as taxas praticadas nas economias mais desenvolvidas, que geralmente não passam de 12% ao ano, mas é fácil imaginar a diferença entre o custo pago pelo consumidor brasileiro em relação ao que é cobrado pelo crédito nesses países.
E não se trata de um pequeno segmento do mercado brasileiro de crédito. Pelo contrário. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) acaba de divulgar balanço dos negócios do setor em 2011. Os cartões de crédito, débito e de rede de lojas no país faturaram R$ 670 bilhões, representando um crescimento de 24% sobre 2010. Foram 8,3 bilhões de transações, com aumento de 18%. Ou seja, o negócio dos cartões não tomou conhecimento da tibieza do "pibinho" (2,7%), experimentando expansão pelo menos oito vezes maior do que a da economia, enquanto o número de operações realizadas pelo dinheiro de plástico cresceu mais de seis vezes que a expansão do Produto Interno Bruto. E para este ano as projeções mais otimistas do governo para o desempenho da economia (4%) nem arranham o cenário com que trabalha a Abecs, que não deixa suas expectativas por menos de 20%. A propósito, deveria intrigar ao governo a constatação de que, na contramão das mais elementares regras de mercado, quanto maior o movimento dos cartões, mais caro eles cobram da clientela.

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