ESTADO DE MINAS
24/3/2012
Ação de extremista na França e execução de mendigo no Brasil são avisos de igual perigo
Pilar da democracia moderna, a França republicana disseminou os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, que inspiraram nações pelo mundo inteiro a se rebelar contra regimes que adotavam como norma a restrição aos direitos do cidadão. Séculos depois da Revolução de 1789, o país mergulha em uma cruzada contra o extremismo, personificado na figura de Mohammed Merah, franco-argelino de 23 anos, que cometeu uma série de assassinatos em Toulouse para vingar as "ações hostis contra o Islã". As medidas antiterroristas anunciadas pelo presidente Nicolas Sarkozy inauguram uma política mais severa contra o fundamentalismo e grupos simpatizantes de ações radicais. Uma das medidas levadas a público é a punição a quem frequentar sites com apologia ao terrorismo.
Até pouco tempo atrás, o drama no país europeu poderia ser observado do Brasil com relativa tranquilidade. O espírito gentil e a miscigenação seriam o salvo-conduto de uma sociedade onde não haveria sentido a discriminação por origem social, cor da pele, opção sexual ou credo. A prisão, em Curitiba, de dois homens que divulgavam abertamente mensagens de ódio pela internet e ameaçavam assassinar estudantes de ciências sociais da Universidade de Brasília demonstra de forma inequívoca que o extremismo está entre nós. Os indícios recolhidos pela operação da Polícia Federal apontam que não se trata apenas de dois tresloucados: há razões concretas para suspeitar que eles integram uma organização criminosa, com meios e motivação suficientes para causar tragédia.
As ações atribuídas aos extremistas presos na quinta-feira não podem ser consideradas um comportamento isolado de desajustados. Há algumas semanas, o país ficou estarrecido com seguidos ataques a moradores de rua. O caso que ganhou mais repercussão ocorreu novamente em Brasília: a mando de um comerciante, um grupo de jovens ateou fogo em dois moradores de rua. Um deles morreu, o segundo ainda se recupera das graves queimaduras, após longa internação hospitalar. Segundo a investigação policial, o mandante do crime, incomodado com a presença dos mendigos, ofereceu R$ 100 para os assassinos jogarem gasolina nas vítimas e riscarem o fósforo. Esse é o preço de uma vida na atual realidade brasileira.
Tanto na França quanto no Brasil, a intolerância exige esforços na implantação de políticas de integração social. As ações do Estado precisam dirimir as diferenças entre os diversos grupos, respeitando-se peculiaridades culturais. No contexto brasileiro, adquirem importância ainda maior as ações voltadas para mais educação, melhor distribuição de renda, mais chances de emprego. Esses fatores não impedem a ocorrência de atos radicais isolados, mas oferecem condições para diminuir a tensão social que serve de arcabouço de conflitos. Quanto à França, os ataques de Toulouse impõem uma reflexão sobre a política externa de Paris, em particular no Oriente Médio. Em uma região deflagrada por conflitos, a famosa lei de Newton assume proporções dramáticas: para cada ação, uma reação correspondente.
24/3/2012
Ação de extremista na França e execução de mendigo no Brasil são avisos de igual perigo
Pilar da democracia moderna, a França republicana disseminou os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, que inspiraram nações pelo mundo inteiro a se rebelar contra regimes que adotavam como norma a restrição aos direitos do cidadão. Séculos depois da Revolução de 1789, o país mergulha em uma cruzada contra o extremismo, personificado na figura de Mohammed Merah, franco-argelino de 23 anos, que cometeu uma série de assassinatos em Toulouse para vingar as "ações hostis contra o Islã". As medidas antiterroristas anunciadas pelo presidente Nicolas Sarkozy inauguram uma política mais severa contra o fundamentalismo e grupos simpatizantes de ações radicais. Uma das medidas levadas a público é a punição a quem frequentar sites com apologia ao terrorismo.
Até pouco tempo atrás, o drama no país europeu poderia ser observado do Brasil com relativa tranquilidade. O espírito gentil e a miscigenação seriam o salvo-conduto de uma sociedade onde não haveria sentido a discriminação por origem social, cor da pele, opção sexual ou credo. A prisão, em Curitiba, de dois homens que divulgavam abertamente mensagens de ódio pela internet e ameaçavam assassinar estudantes de ciências sociais da Universidade de Brasília demonstra de forma inequívoca que o extremismo está entre nós. Os indícios recolhidos pela operação da Polícia Federal apontam que não se trata apenas de dois tresloucados: há razões concretas para suspeitar que eles integram uma organização criminosa, com meios e motivação suficientes para causar tragédia.
As ações atribuídas aos extremistas presos na quinta-feira não podem ser consideradas um comportamento isolado de desajustados. Há algumas semanas, o país ficou estarrecido com seguidos ataques a moradores de rua. O caso que ganhou mais repercussão ocorreu novamente em Brasília: a mando de um comerciante, um grupo de jovens ateou fogo em dois moradores de rua. Um deles morreu, o segundo ainda se recupera das graves queimaduras, após longa internação hospitalar. Segundo a investigação policial, o mandante do crime, incomodado com a presença dos mendigos, ofereceu R$ 100 para os assassinos jogarem gasolina nas vítimas e riscarem o fósforo. Esse é o preço de uma vida na atual realidade brasileira.
Tanto na França quanto no Brasil, a intolerância exige esforços na implantação de políticas de integração social. As ações do Estado precisam dirimir as diferenças entre os diversos grupos, respeitando-se peculiaridades culturais. No contexto brasileiro, adquirem importância ainda maior as ações voltadas para mais educação, melhor distribuição de renda, mais chances de emprego. Esses fatores não impedem a ocorrência de atos radicais isolados, mas oferecem condições para diminuir a tensão social que serve de arcabouço de conflitos. Quanto à França, os ataques de Toulouse impõem uma reflexão sobre a política externa de Paris, em particular no Oriente Médio. Em uma região deflagrada por conflitos, a famosa lei de Newton assume proporções dramáticas: para cada ação, uma reação correspondente.
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