terça-feira, 7 de julho de 2015

Os desafios da adolescência

A perda dos rituais e a complexidade do mundo atual exigem amadurecimento mais individualizado e problemático. Mas as dificuldades não são apenas dos jovens. Afinal, a "aborrecência" existe ou o termo serve para estigmatizar os adolescentes

dezembro de 2005
Wagner Ranña
Sabemos que o ser humano não nasce com um destino já estabelecido em seu genoma. Embora muita coisa esteja prevista geneticamente, a grande vantagem do homem sobre as outras espécies é sua capacidade de ser moldado pela relação com o outro, com a sua própria história e com a cultura. Desde o nascimento, ou até antes dele, o sujeito irá se constituir a partir daquilo que experimenta enquanto vivências reais, imaginárias e simbólicas. Um efeito dessa historicidade do desenvolvimento humano é percebido nas evidentes mudanças nas suas etapas ao longo dos últimos três séculos, a ponto de podermos localizar a origem do conceito de infância no século XVII e a origem da adolescência no século XX.

As transformações sociais, culturais e psicológicas da vida humana ao longo do século XX vão alongar o tempo de passagem da infância à maturidade. Desse processo, emerge um sujeito meio criança, meio adulto, e demorou muito tempo para que a própria ciência passasse a reconhecê-lo. Adolescente, adolescência e adolescer. Mas em que consiste esta etapa da vida, pela qual passam todos os homens contemporâneos?

A definição de adolescência é importante, pois existe muita confusão em relação a isso. A forma mais fácil de defini-la é tomar como referência a idade. A partir do referencial cronológico a Organização Mundial da Saúde (OMS) define adolescência como o período da vida que vai precisamente dos 10 anos até os 19 anos, 11 meses e 29 dias. Nessa fase ocorrem pelo menos três fenômenos importantes do desenvolvimento humano: do ponto de vista biológico, a puberdade, com o amadurecimento sexual e reprodutor; do ponto de vista social a passagem da infância para a vida adulta, com a assunção de papéis adultos e a autonomia em relação aos pais; e, do ponto de vista psicológico, a estruturação de uma identidade definitiva para a subjetividade.

Puberdade precoce
Houve nos últimos anos uma mudança nos limites de idade que definem a adolescência, que antes começava aos 12 anos e terminava aos 18. Por que essas mudanças ocorreram? Estamos aqui diante de um dos fenômenos mais interessantes do século XX, que evidencia a historicidade dos períodos do desenvolvimento e da vida humana acima apontada, determinada por transformações sociais, psicológicas, culturais e biológicas.
Entre outras mudanças, vem ocorrendo uma antecipação do começo da puberdade. A menarca, como se define a primeira menstruação, no início do século XX surgia por volta dos 15 anos. Atualmente acontece, em média, aos 12. Essa antecipação se deve a vários fatores. Um deles é o aumento do peso corporal, que se deu em função das melhores condições de saúde e alimentação, mas também por um maior apelo para o amadurecimento sexual, determinado pelo imaginário veiculado nos meios de comunicação. Numa menina fortemente submetida a esse apelo, que atinge certa estatura e certo peso precocemente, a menarca aparece mais cedo.

Contemporaneidade
A própria existência da adolescência é bem marcada historicamente. Podemos dizer que ela é um fenômeno da contemporaneidade. Nas sociedades que não passaram pelas transformações que delineiam hoje o mundo ocidental, e mesmo nas sociedades atuais tradicionais, a passagem da infância para a vida adulta acontece de forma tranqüila, amparada por rituais socialmente estabelecidos, fazendo com que esta mudança seja vivida de forma coletiva, ritualizada, tradicional. Além disso, é transmitida de uma geração a outra por séculos.

Nas sociedades ocidentais que se caracterizam pela globalização e pela emergência de modalidades complexas nos papéis sociais em função da sofisticação do trabalho, ocorre, de um lado, um alargamento do tempo da formação profissional, que chega até os 25 anos ou mais e, de outro, a antecipação do término da infância. A adolescência, assim, torna-se um período ampliado. Nas sociedades modernas, o adolescer passou então a ser um processo vivenciado de forma individual, de acordo com os ideais de liberdade e singularidade reinantes. Assim, todas as dificuldades que envolvem a passagem da infância para a vida adulta terão de ser vividas pelo jovem solitariamente. Com as transformações físicas e psicológicas, o adolescente e quem compartilha de sua vida vêem-se mobilizados a criar formas de se estabelecer na vida adulta. Sem rituais, cada um vai viver esse processo de forma única.

A necessidade de "ritualizar" a passagem vai ser então considerada problemática, e isso torna-se "o" adolescer. Daí o importante conceito de "síndrome da adolescência normal", de Aberastury e Knobel. O que antes era coletivo e tradicional hoje é "patológico e problemático". O que antes era marcado pelo amadurecimento biológico, e finalizado por um ritual de iniciação, hoje é vivido singularmente e de forma muito diversificada: é o primeiro beijo, a primeira transa, um piercing, uma tatuagem, uma viagem sem os pais. Dentre essas diversas formas de adolescer encontramos as mais problemáticas, as mais sofridas, e também as patológicas. Porém, a diferenciação entre o normal e o patológico é difícil, e promove-se muita estigmatização e patologização diante dos estranhos comportamentos dos jovens.
O conceito de "síndrome da adolescência normal" foi criado para evidenciar exatamente este aspecto: na passagem da infância para a vida adulta, mais do que um período de tempo, o sujeito terá de cumprir a tarefa de viver os lutos pela perda do corpo infantil e dos pais da infância, ressituando-se subjetivamente como adulto. Aqui devemos ressaltar a presença da palavra "luto", que revela a perda de algo muito valioso. Essa perda é vivida com grande sofrimento, mas temos de criar meios de substituí-la por novas aquisições reais, imaginárias e simbólicas. Ser do contra, ter manias com alimentos diferentes, vestir-se de forma estranha, cultuar ídolos, passar a gostar mais dos amigos; que dos pais, conhecer novas religiões e até mesmo experimentar variadas formas de ser, todas essas vivências são comportamentos que fazem parte do processo de experimentação para encontrar a forma nova do ego. Estar meio deprimido, chorar sem motivo aparente, ser alegre de forma exagerada, reivindicar atitudes inesperadas dos pais são parte dessa elaboração do luto. O processo também é vivenciado com angústia, depressão e agressividade.

É importante salientar que na contemporaneidade todas as passagens são problemáticas, pois os parâmetros históricos foram perdidos para todas as etapas do crescimento humano, por conta da complexidade do mundo ocidental contemporâneo. Assim, é difícil crescer, adolescer, ser adulto, assumir a paternidade, envelhecer e morrer.

O adolescer dos pais de hoje já é antigo e o novo adolescer lhes parece problemático, mais pela falta de identificação entre o processo de amadurecimento das diferentes gerações que propriamente porque estamos diante de uma "juventude perdida". O que perdemos foram as semelhanças: outrora o adolescer era o mesmo durante séculos, além de ser totalmente ritualizado. Hoje, com a velocidade das mudanças, o adolescente de uma geração causa estranhamento e perplexidade para a anterior. Todos sofrem com isso. Os pais, principalmente, sentem-se desorientados e vivem o luto da perda do filho dócil, companheiro - e muito idealizado -, que agora os troca pela "balada com a turma" e não é mais o primeiro aluno da classe. Os jovens, por outro lado, ficam expostos a um excesso de crítica, são estigmatizados e, infelizmente, muitas vezes abandonados e incompreendidos.

O adolescer é um dos eventos cheios de emboscadas que temos de enfrentar na vida moderna.  As crises relacionadas às transformações envolvem a todos. Pais, educadores e profissionais da saúde também fazem parte dela e freqüentemente manifestam sintomas ao enfrentar a convivência com os jovens, revivendo suas próprias adolescências. O desamparo e a necessidade de criar os próprios rituais de passagem estão presentes em todos os períodos da vida humana, como no envelhecer, no aposentar-se e até mesmo no morrer. O homem contemporâneo está pagando, e caro, com solidão e angústia a troca dos rituais tradicionais pela liberdade e pela individualidade.

Algumas culturas ainda mantêm esses rituais, e penso que são muito acolhedores para muitos jovens e pais, como por exemplo, o bar mitzvah (para os meninos) ou bat mitzvah (para as meninas) entre os judeus.
A adolescência brasileira
Os problemas nessa fase da vida existem e não são poucos. O mais grave aspecto que envolve o adolescente brasileiro se refere à mortalidade por causas externas, entre as quais se destacam os óbitos violentos: homicídios, suicídios e acidentes, que atingem níveis alarmantes. Tudo se passa como se estivéssemos em guerra declarada. Hoje, na faixa etária que vai de zero a 20 anos, é entre os 15 e os 20 que se concentra a maior mortalidade. Há 30 anos, o grande desafio era reduzir a mortalidade infantil, ou seja, na faixa de zero a 1 ano de vida. De certa forma, essa batalha importante foi vencida. Houve um deslocamento do pico de mortalidade para a faixa etária entre 15 e 24 anos, bem como nos tipos de óbito, pois se antes a criança morria de desnutrição ou infecção, hoje os jovens estão morrendo por causas violentas. É esse o grande desafio de quem trabalha com adolescentes no Brasil na atualidade.

O que estaria determinando esses números? Não pretendemos esclarecer de forma definitiva o assunto, até porque sobre ele não existe consenso, mas podemos fazer algumas observações a partir de certas experiências.

Os jovens são vítimas e também agentes nesse cenário. Um aspecto evidente é que muitas dessas mortes são conseqüência do envolvimento com ações ilegais, até mesmo criminosas - jovens são mortos no enfrentamento entre grupos, por domínio e poder, ou no choque com a polícia. Muitas mortes decorrem de conflitos em bares ou bailes, onde a violência e as brigas terminam de forma trágica. Existe exagero quando se relaciona a violência à pobreza, embora essa relação seja em parte verdadeira. Estamos diante de um problema complexo, em que atuam muitos determinantes.

Um olhar mais cuidadoso para esta realidade encontra o que se chama de "comportamento de risco", e a morte é o resultado de um processo que tem seus antecedentes ou sua história individual e única. Por isso, o estudo de caso é uma ferramenta muito valiosa, pois nos leva a conhecer as singularidades dos componentes deste cenário. Falhas da função materna e paterna somam-se à falta de acolhimento, de oportunidades, num cenário social de carências e falta de seriedade por parte do Estado, pois a grande maioria desses jovens está em regiões carentes das grandes cidades.
Assim a "crônica da morte anunciada" é evidente. Em geral  ocorre algum problema na constituição familiar ligado à ausência do pai (é comum o adolescente ser filho de uma primeira ligação da mãe, e o novo parceiro dela não aceitar o jovem muito bem, podendo ocorrer hostilidade contra o rapaz). Alia-se a essa situação uma atitude superprotetora da mãe, que toma o filho como parceiro de suas desilusões, em geral submetendo-se aos caprichos de um jovem exigente. O quadro recorrente apresenta um jovem que, embora arrogante, não tem êxito nos estudos e no trabalho, e com freqüência é analfabeto funcional (de certa forma, resultado de falhas no processo educacional). Não se destaca em atividades esportivas e artísticas, ou não teve oportunidade de se descobrir competente em alguma delas. Em geral, a vida escolar torna-se algo sem valor. Não existe oportunidade para descobrir competências ou vocações desconhecidas. O comportamento agressivo manifesta-se diante de qualquer frustração.

Encaminhado para algum atendimento psicológico, ou não se vinculou ou foi atendido de forma inadequada. Ao se ver mais livre, o jovem envolve-se no consumo de drogas ilegais. Está no "olho do furacão", já que muito perto de se envolver com lideranças negativas ou com formas imaginárias de ter poder e conseguir realizar seus desejos através da violência.

Como interromper esse caminho é um desafio. Mas a experiência tem mostrado que a eficiência aumenta na medida em que se trabalha em parcerias, envolvendo todos os tipos de profissionais e a família. Mas principalmente atuar cedo e caso a caso.

Essa realidade é retratada de forma muito adequada e sensível no filme brasileiro Através da janela, que conta a história de um jovem e sua mãe em processo de luto pela morte do pai e marido. Os dois se envolvem numa dinâmica incestuosa, que, de um lado, alivia a dor decorrente da perda e, de outro, impele o jovem a um comportamento transgressivo, sem a interdição necessária da função paterna e com uma alienante conivência da mãe. No filme, o jovem acaba envolvido na criminalidade.

Do lado feminino, o adolescer vai lançar a menina diante de desafios de independência, de escolhas profissionais e da barreira do vestibular. É freqüente encontrar uma saída para esse desafio numa gravidez precoce, que a recoloca no papel de cuidadora de bebês, escolhendo ser mãe, o que funciona como uma solução inconsciente de retorno à condição infantil. Portanto, nem sempre a gravidez adolescente é indesejada. Pelo contrário, é uma saída, ou fuga, para o espaço doméstico como alternativa ao enfrentamento do árduo caminho para a vida adulta.
A adolescência pode ser muito traumática para um jovem que já tenha dado mostras de fragilidades egóicas. As transformações físicas e psicológicas vão resultar numa fragmentação egóica violenta. É por isso que na adolescência costumam ocorrer problemas de saúde mental importantes, tais como anorexia, esquizofrenia, pânico, depressão (principalmente a depressão manifestada por sintomas agressivos), todos tendo como desencadeantes dificuldades no processo de elaboração dos três lutos anteriormente assinalados. Nesses casos, existe uma via de mão dupla: o adolescente recusa a tarefa do caminho para a vida adulta, e os pais, em conjunto ou isoladamente, recusam-se a ver o filho crescer e seguir sua própria vida. Não é de estranhar que o suicídio possa ser visto como uma forma de aliviar o trauma que o adolescer pode representar para um determinado sujeito.

E o que falar das mortes por acidentes? A busca por excitações cada vez maiores e a ilusão de ser um super-homem fazem com que os adolescentes sintam fascínio pela velocidade, pelas quedas e pelos esportes radicais. A excitação da "quase morte" ou do "foi por um triz" é vista como mais estimulante que um bom orgasmo. Existe aqui também a necessidade de se mostrar corajoso para os parceiros da turma. Os acidentes então ocorrem. Não devemos esquecer que o álcool está associado ao acidente automobilístico de forma bem conhecida.

Quanto à sexualidade, devemos constatar uma questão nova, pois se para os adolescentes anteriores ao famoso ano de 1968, ou seja, antes das grandes transformações nos comportamentos sexuais da contemporaneidade, o desafio e o desejado eram o sexo, hoje, a busca por excitações cada vez maiores extrapola a sexualidade, ampliando-se para comportamentos e desejos bem mais complexos. "Ficar", namorar e transar ainda são uma busca e um desafio. Mas a balada, a bebida, as drogas, o celular de último tipo, o tênis mais transado, o carro, as roupas, tudo vai compor uma economia libidinal muito pouco disposta a esperar ou adiar suas realizações. Em psicanálise dizemos que saímos da economia do prazer, para entrarmos na economia do gozo. A famosa colocação de um adolescente imaginário, atônito diante do novo corpo, "E agora, o que faço com este tesão?", pode ser recolocada da seguinte forma: "E agora, quem vai segurar meu gozo?". O verbo "segurar" é importante para evidenciar que os adolescentes necessitam de liberdade, mas ao mesmo tempo de limites bem colocados, pois o gozo demanda interdição. Pais e educadores, meio atônitos com as novidades, porém, perderam os parâmetros e, ao se pretender liberais, na verdade acabam deixando os jovens desamparados.

Além dessa mudança na economia libidinal, encontramos situações em que o amadurecimento sexual é vivido com grandes inseguranças e inibições, desencadeantes de sintomas neuróticos diversos.
O papel dos pais
O adolescer implica os pais, que também vão viver um processo de mudança de seus papéis, deixando de ser os admirados e poderosos pais da infância, para ser apenas os pais despidos do imaginário infantil. Nesse processo, alguns entram em pânico ao perceber que já não precisam ser tão cuidadores e presentes como antes. Existem situações em que o processo de amadurecimento e busca de autonomia do adolescente é experimentado com tão grande sofrimento pelos pais que o medo da perda dos filhos não pode ser vivido. Assim alguns pais não conseguem mais enfrentar o desafio e as dificuldades que envolvem a tarefa de exercer a paternidade de um adolescente. Muitos se deprimem, se angustiam e usam o discurso dos perigos e dos riscos para impedir que o filho cresça, mantendo-o na posição infantil, a fim de garantir a posição de pais de uma eterna criança. É comum esse processo de domínio sobre o filho ser perpetrado com atitudes autoritárias, geradoras de grandes conflitos familiares.

Mas encontramos mais uma vez situações opostas: diante de um jovem caseiro, inibido e desinteressado pelas baladas, alguns pais se preocupam, pois entendem que algo não está normal. É interessante notar que diante de pais muito liberais e avançados, o processo do adolescimento vai se dar na direção oposta. Ser retraído é forma de o adolescente "ser do contra" ou diferente dos pais e encontrar sua própria subjetividade.

Profissão, Ídolos e amor
A passagem da infância para a maturidade será concluída se o jovem encontrar um caminho na busca de um papel social, o que não é fácil num país de grande índice de desemprego. A escolha de uma carreira é muito importante nesse caminho, mas a organização dos vestibulares por carreiras antecipa e dificulta muito a escolha. Nem sempre as dificuldades com o vestibular decorrem de nível de conhecimento e de uma concorrência extrema. Podem ocorrer por uma total falta de decisão e de escolhas. Aos 18 anos, é algo que pode ser esperado. Se o jovem ainda nem sabe bem quem é, como pode escolher o que será profissionalmente?

Encontrar referências para seguir no processo de construção de uma identidade na adolescência implica busca de parâmetros fora dos modelos parentais. Os pais já estão incorporados à subjetividade, às vezes até demais, e agora é preciso certo afastamento dessas referências. Daí vem a necessidade que os adolescentes sentem de buscar seus ídolos e amigos. Nem sempre, porém, as referências existentes são adequadas.

Nesse momento de transição as companhias afetivas são fundamentais, e aqui destacamos as amizades, intensas, profundas e prazerosas. Não existe adolescência sem a turma ou a "galera".
Mas a grande descoberta da adolescência é a do amor, que vai ser um importantíssimo sinal de qualidade na construção da subjetividade. Ter a capacidade deINVESTIR uma pessoa como um verdadeiro parceiro no amor vai marcar definitivamente o fim das escolhas edípicas (com a dissolução do complexo de Édipo), posicionando o jovem no caminho definitivo da maturidade. Os adolescentes são sensíveis, disponíveis e ávidos para viver o namoro, e há exagero quando se fala de promiscuidade amorosa entre eles, pois muitos buscam viver uma grande paixão. Aqui encontramos, talvez, a essência e a beleza de todo o processo do adolescimento.

Novamente surgem emboscadas, pois diante da angústia desencadeada pelas perdas e transformações, a relação amorosa pode ser vivida com sentimentos de domínio, simbiose, dependência, representando um deslocamento de modalidades relacionais problemáticas da infância.

Grandes sofrimentos, ou mesmo suicídios, decorrem de frustrações nas relações amorosas.

O amor na adolescência inspira romancistas, poetas, músicos e cineas-tas, muitas vezes com ênfase em seus aspectos apaixonados, violentos e trágicos. Mas com a psicanálise constatamos que, desde a infância, é a partir dos cuidados e do amor do outro que se constitui o corpo e, depois, o ego infantil. Em outras palavras, é do olhar impregnado de amor do outro que o ego infantil tira sua força para se constituir.

Na adolescência mudam os protagonistas, mas mantém-se a estrutura, pois o corpo e o ego revivem a experiência de não integração, e é novamente no encontro com o olhar do parceiro amado que o sujeito vai se reapropriar de sua nova identidade.

Para saber mais

Adolescência normal. A. Aberastury e M. Knobel. Artes Médicas, 1992.

Violência no corpo. Violência na mente. W. Ranña, em Adolescência pelos caminhos da violência. D. L. Levisky (org.). Casa do Psicólogo, 1998.

A criança e o adolescente: seu corpo, sua história e os eixos da constituição subjetiva. W. Ranña, em Psicossoma III. R. Volich, F. Ferraz e W. Ranña (org.). Casa do Psicólogo, 2003.

Sobre o lugar da adolescência na teoria do sujeito. R. Ruffino, em Adolescência. Abordagem psicanalítica. C. R. Rappaport (coord.), EPU, 1993

Geração celular

Mal podemos imaginar a vida dos adolescentes sem os telefones móveis: multifuncionais, eles servem como gravadores de música, central de comunicação, símbolo de status – cientistas estudam a relação dos jovens com esses aparelhos para compreender o comportamento de grupos e desvendar interesses

junho de 2009
Annete Schäfer
© RADU RAZVAN/ SHUTTERSTOCK
Nos dias de hoje, encontrar um adolescente que não tenha um celular é tão improvável quanto achar um menino de 13 anos que seja fã de ópera ou uma menina de 15 que não se preocupe com a aparência. Nenhum grupo incorporou tão rápida e amplamente a tecnologia à sua rotina quanto os jovens de 12 a 19 anos. No Brasil, em janeiro de 2009, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) contabilizou 154,6 milhões de assinantes de telefonia móvel e, embora a agência e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não tenham informações sobre a faixa etária dos proprietários dos aparelhos, é possível perceber o interesse dos adolescentes por celulares.

Mas qual o efeito causado pelo uso constante desses aparelhos nos relacionamentos e no comportamento? Nos últimos anos, cientistas alemães estudaram essa questão minuciosamente e por meio de entrevistas com adolescentes e seus pais – observando atitudes dos estudantes na escola, linguagem e conteúdo de mensagens enviadas e recebidas – foi possível mapear o “comportamento telefônico” dos grupos. Os pesquisadores constataram que os celulares mudaram a vida dos adolescentes sob vários aspectos – muitos deles para melhor. Um exemplo disso foi na organização do dia. Assim como para os adultos, o celular ajuda os adolescentes a manter o controle da sua vida: é possível informar os pais de que estão saindo da aula, avisar sobre seus planos para a tarde, marcar atividades escolares e lúdicas – tudo simultaneamente. Hoje, em vez de agendar encontros com os amigos com antecedência, como se fazia há alguns anos, os jovens planejam suas atividades quando já estão a caminho delas e em um curto período de tempo são capazes de preparar uma festa.

Símbolo de status, a escolha do aparelho é vista por esses rapazes e garotas como expressão da própria personalidade. Modelos, cores e recursos são tema de conversa e, em alguns meios, podem indicar o grau de popularidade de seus proprietários. Alguns jovens usam o celular como uma espécie de “gerenciador de relacionamentos”: ele serve como centro de controle de uma rede social, principalmente quando se trata de pessoas da mesma idade. E possuir um aparelho próprio pode ser um pressuposto básico para fazer parte de um grupo; quem não é “encontrável” acaba excluído da comunicação de algumas turmas.
BLUEORANGE STUDIO/SHUTTERSTOCK
A POSSIBILIDADE DEMARCAR ENCONTROS a qualquer momento ajuda a controlar sentimentos de insegurança e solidão
Em um estudo feito em 2005, no Japão, foram entrevistados aproximadamente 600 estudantes – sendo que apenas metade deles tinha celular. Os resultados mostraram que proprietários de telefones tendiam a escolher seus amigos entre os que também possuíam o aparelho. Eram os mais afeitos a novidades tecnológicas e julgavam ser importante para a vida profissional e pessoal ser encontrados a qualquer momento. Apesar de apenas 5% dos entrevistados terem admitido abertamente que se sentiam socialmente excluídos devido à falta da tecnologia, quase 70% expressaram o desejo de ter um aparelho e um em cada três acreditava que não conseguiria ficar sem celular depois que tivesse o primeiro.

A maioria dos jovens que usam celulares concorda que é importante seguir algumas regras, que entre pessoas de outras faixas etárias poderiam ser facilmente contestadas. Por exemplo, julgam grosseiro não enviar uma resposta rápida para um recado deixado na caixa postal ou um SMS (short message service, em inglês): um “atraso” de 20 a 40 minutos ainda é aceitável – mais que isso costuma ser tomado como falta de educação. Mais: o celular pode (e deve) ser utilizado a toda hora e em qualquer lugar. Muitas vezes, no caminho da escola para casa, eles ligam para os amigos com quem acabaram de passar a manhã. Para muitos adultos é difícil entender esse desejo excessivo de comunicação. O que pode haver de tão importante para ser dito com tanta urgência?

A professora de psicologia Nicola Döring, da Universidade Técnica de Ilmenau, na Alemanha, analisou o conteúdo de mil mensagens instantâneas. Os resultados mostram que os jovens não usam o celular apenas para a troca de informações objetivas, mas para participar da rotina do outro, expressar proximidade, afeto e dar vazão aos sentimentos. Segundo estudo norueguês de 2005, feito com aproximadamente 12 mil jovens, com idade entre 13 e 19 anos, a troca de carinhos virtuais é considerada por eles como essencial para seus relacionamentos e parece funcionar como uma espécie de “reanimador”: os resultados mostraram que, quanto mais um adolescente telefonava ou mais mensagens escrevia, menor a possibilidade de se sentir solitário. Pesquisadores consideram, porém, a possibilidade de que adolescentes que de antemão já estejam em um bom estado de ânimo usem mais o celular. Porém, a argumentação inversa parece, no mínimo, igualmente plausível; a perspectiva de encontrar os amigos a qualquer momento, em qualquer lugar, ajuda a controlar a insegurança e a solidão.
Por mais importante que o celular se tenha tornado na vida da nova geração, não existe nenhum indício de que a comunicação por telefone substitua os encontros pessoais. Os programas com amigos são tão importantes hoje quanto antigamente, porém, além de se encontrar, eles permanecem em intenso contato eletrônico – e isso vale tanto para os amigos quanto para os casais. Na pesquisa de Döring expressões virtuais como “GDV” (gosto de você) e variantes “GMDV” (gosto muito de você) estão em primeiro lugar na lista das abreviações preferidas. A comunicação por escrito, para alguns, pode facilitar a demonstração de carinho e desejo. Na pesquisa britânica, feita pela internet, aqueles que se descreviam como socialmente tímidos ou solitários declararam que era mais fácil se expressar por mensagens curtas.

O advento do celular também mudou relacionamentos familiares e despertou controvérsias. Por um lado, existem questões bem práticas a ser relevadas, como o valor da conta no final do mês e a sensação que os adultos têm de não entender muito bem a necessidade dos filhos de usar tanto esses aparelhos. Por outro, o celular interfere na estrutura de poder entre pais e filhos. Na puberdade, o desejo parental de controle e a necessidade de liberdade dos adolescentes entram inevitavelmente em conflito. Isso acontece em todas as gerações – o celular, porém, modificou a forma como esses impasses são resolvidos. Assim, o limite entre estar em casa e estar fora torna-se confuso. Um jovem com celular próprio pode entrar em contato com seus amigos a qualquer momento e em qualquer lugar sem a interferência dos pais. E estes, por sua vez, podem participar mais intensamente da vida de seus filhos.

Com isso, o telefone móvel pode trazer vantagens para a relação familiar: para os jovens a independência aumenta, em comparação com as gerações anteriores. Em um estudo desenvolvido na Bélgica, por exemplo, os estudiosos perguntaram a aproximadamente 2.550 jovens – metade com 13 e a outra com 16 anos – com que frequência eram despertados de madrugada por mensagens SMS. Entre os mais novos, quase 14% declarou que isso acontecia de uma a sete vezes por semana. Entre os mais velhos esse número chegou a 23%. Os pais podem não ficar muito entusiasmados com as atividades noturnas de seus filhos, mas a maioria gosta do fato de ter um número em que pode encontrá-los. Para eles, o celular oferece a possibilidade – e, em alguns casos, a ilusão – de exercer controle a distância sobre seus filhos.

A possibilidade de cuidados a distância pode fazer com que os pais concedam maior liberdade aos filhos, como demonstrou um estudo britânico. O sociólogo Stephen Williams, da Universidade de Glamorgan, no País de Gales, perguntou para 25 adolescentes, com idade entre 15 e 16 anos, e a seus pais, sobre o papel do telefone móvel nas negociações sobre o direito de sair de casa para compromissos sociais. Especializado no estudo de famílias, ele descobriu que os adultos mostram-se dispostos a deixar os filhos saírem por mais tempo e irem mais longe, desde que liguem regularmente e atendam sempre ao chamado dos pais. O acordo parece útil para os dois lados: garante maior segurança aos pais e, aos adolescentes, mais liberdade. Porém, existe um problema: alguns pais se desesperam se por algum motivo não conseguem encontrar seus filhos. E há adolescentes que ficam envergonhados por receberem telefonemas dos pais na presença dos amigos.
Os efeitos ambivalentes do celular também foram revelados em um estudo feito em 2003, pelo sociólogo Michael Feldhaus, da Universidade de Bremen, Alemanha. Ele entrevistou 30 famílias – pais e adolescentes separadamente – sobre suas experiências com a comunicação móvel. De maneira geral, as duas gerações avaliavam os efeitos do telefone sobre as relações familiares como positivos. Para todos os membros da família o aparelho é visto como mecanismo de segurança, inclusive emocional. Tanto filhos quanto pais salientaram o efeito tranqüilizante de telefonemas regulares durante uma ausência prolongada. Para os adolescentes, porém, o efeito emocional positivo inverte-se quando os pais utilizam o celular como meio de controle excessivo. Para escapar do que chamam de “coleira eletrônica” terminam desligando o aparelho, o que causa inevitáveis problemas domésticos.

“Os adolescentes estão presos no dilema da disponibilidade; o desejo de pertencer a um grupo e ter independência leva ao mesmo tempo a um maior controle por parte dos pais”, diz Feldhaus. Mas, mesmo para os responsáveis, essa disponibilidade constante pode tornar-se uma armadilha. Há jovens que ligam para os pais por qualquer bobagem – um comentário desagradável da melhor amiga ou o ônibus perdido já podem ser suficientes para buscar apoio. Quando usado assim, o celular pode servir como uma espécie de “cordão umbilical virtual” que retarda a independência. Feldhaus também observou esse fenômeno em suas pesquisas: “Adolescentes que frequentemente reagem com impaciência e de forma emotiva, em geral têm a necessidade de expressar imediatamente seus sentimentos e isso faz com que, em alguns casos, criem uma espécie de linha vermelha com os pais, e que principalmente as mães corram o risco de serem controladas pelos filhos”.

O telefone móvel ainda pode ter outras graves consequências para os jovens. Como ocorre com toda nova tecnologia, existe o risco de abuso. Alguns estudos isolados indicam que jovens podem desenvolver dependência do celular. Em uma pesquisa americana feita em 2005, foi pedido a 102 universitários que passassem dois dias inteiros sem usar o aparelho. Apenas 82 concordaram e somente 12 conseguiram chegar ao fim da experiência. Já um estudo da Coreia do Sul, coordenado por Jee Hyun Ha, em 2006, mostrou que principalmente alunos que passam por momentos difíceis e se sentem emocionalmente abalados tendem a usar demais o celular. Em um grupo de 575 voluntários – a maioria meninos – um terço cometia excessos: esses adolescentes usavam o telefone mais de 90 vezes por dia, em média uma vez a cada dez minutos, enquanto estavam acordados. Eles checavam constantemente se tinham novas mensagens e reagiam com irritação quando não obtinham respostas imediatas. Ao mesmo tempo, os usuários assíduos tinham resultados piores do que os moderados em testes que avaliavam depressão, ansiedade e baixa auto-estima.

CONDENADA POR HAPPY SLAPPING

No ano passado, a justiça britânica condenou uma adolescente que confessou ter filmado com seu telefone celular o espancamento que resultou na morte de um homem, em setembro de 2007. Ela foi acusada de auxiliar e ser cúmplice no homicídio de Gavin Waterhouse, de 29 anos, que morreu por causa de ferimentos internos causados pelo espancamento. A garota, de 15 anos, foi enviada para um centro de segurança e irá continuar sob custódia da justiça até a divulgação da sentença.

“Os jovens tentam controlar a ansiedade ao entrar em contato constante com os outros”, afirma o pesquisador coreano Jee Hyun Ha. Alguns, porém, acham divertido atacar colegas de classe ou mesmo adultos, filmar os ataques com o celular e enviar os filmes para outras pessoas. Esse fenômeno, identificado inicialmente na Inglaterra pelo termo happy slapping (surra divertida), já se espalhou por outros países. Segundo o estudo recente JIM-Jugend, Information, Multimedia, realizado na Alemanha, um em cada três usuários de celular já presenciou alguma vez um ataque sendo filmado pelo equipamento. No entanto, ainda não está claro se as brigas registradas eram reais ou encenadas.
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ADULTOS, MAS SEM LIMITES

Alguns adultos se tornam dependentes desses pequenos aparelhos e por causa deles chegam a ficar em situações constrangedoras. Em abril, o primeiro- ministro da Itália, o polêmico Silvio Berlusconi, conseguiu atrasar o início da reunião da cúpula da aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Estrasburgo, na França, por falar ao telefone celular. A chanceler alemã, Angela Merkel, uma das anfitriãs do evento, esperou por ele vários minutos no tapete vermelho que conduzia à entrada do prédio. Enquanto aguardava, foi recebendo outros líderes e acabou desistindo dele, dando início à reunião sem o italiano. Outro caso polêmico é o da socialite ParisHILTON, que há poucas semanas teve seu celular roubado na Austrália e, além de perder toda a sua agenda telefônica com contatos de celebridades, teve suas fotos íntimas, tiradas com o aparelho, divulgadas na internet.
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/geracao_celular.html

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Do direito de greve para operários da segurança

Data: 21/04/2014
10:20:29
Disse o filósofo e poeta Cláudio Dortas, quase meio século atrás: “Sou contra a lei porque a lei é filha do erro”. A questão está aí, na origem distorcida da polícia, que também nasce de uma motivação negativa.
As corporações foram instituídas como solução “natural” ante a necessidade de proteção do patrimônio e da ordem pública, as quais sem elas seriam alvo constante da turba esfomeada e excluída desde longínquas eras.
Eram formadas pelos mais fortes, mais corajosos e, naturalmente, mais obedientes, esta última condição conseguida à base de bom soldo e vantagens outras que conduziam seus membros a posição social acima da massa ignara.
Eram gendarmes obcecados pelo cumprimento do dever, e assim ocorreu também numa “capitania” próspera como a da Bahia, em que batalhões de homens armados foram reunidos sob os conceitos da disciplina e da hierarquia.
A Polícia Militar é praticamente bicentenária, mas somente nas últimas décadas de existência movimentou-se em direção oposta ao espírito de sua gênese, transformando, em última análise, a sensação de segurança da comunidade em terror contínuo.
Não é algo que acontece de repente ou sem razão. É, para usar um jargão incontestável, a modernidade do mundo, em que até o Brasil experimenta sua mais longa vivência democrática, embora a primeira greve da PM baiana tenha sido em 1981, ainda no regime militar.
Esse processo, num tempo em que não há mais segredos sobre a informação elementar – “todo mundo” sabe de “tudo” –, contribuiu para enfraquecer o vínculo da instituição com o sistema de poder, que no seu âmago não representa mais.
Os policiais são hoje operários da segurança, sentem-se cidadãos autônomos, que se associam sindicalmente para pugnar por direitos de indivíduos, sem deixar de levar em conta que as falhas no seu trabalho, muitas vezes, não tenham como punição a advertência, a suspensão, mas a morte, demissão irrevogável.
Sim, é contra a lei o movimento paredista em organizações militares, e por isso seus insufladores e participantes correm o risco de repressão pelas Forças Armadas e enquadramento em legislação das mais duras. Mas estamos diante de uma situação de fato, com a qual teremos de aprender a conviver.

Site Por Escrito.

Distância da Seleção ajuda a rejeitar Copa

Data: 23/04/2014
22:28:21
Um dos fatores que mais contribuem para a tendência brasileira, constatada em pesquisas, a rejeitar a Copa do Mundo, ao lado da evidente insatisfação popular com a corrupção e os serviços públicos, é a crescente falta de identidade com a Seleção Brasileira.
Nos tempos em que vigia o conceito nelsonrodrigueano de “pátria de chuteiras”, seria uma heresia menosprezar a competição, ainda mais no próprio país, quando todos poderiam exercitar ao vivo os briosos sentimentos nacionais.
Houve uma tentativa de misturar as coisas durante o regime militar, estimulando-se a torcida contrária em certos segmentos políticos para confrontar o uso descaradamente político da Copa de 70 pela ditadura.
Não funcionou, primeiro, porque não ocorreu, em razão da própria censura e da repressão, um movimento orgânico nesse sentido. Depois, era forte o vínculo entre o orgulhoso torcedor e o “escrete canarinho”, redentor de todos os medos e vergonhas.
A história começou longe, ditada pela proximidade física e espiritual entre a população e os jogadores, todos atuando aqui mesmo, nos clubes do coração de cada um, relação que começou a mudar na década de 80, quando teve início a exportação em massa de nossos craques.
Zizinho, um deus vivo na época praticamente amadora do futebol brasileiro, saía do Maracanã após jogar partidas pela Copa de 50 e ia pegar, com sua sacola na mão, como um passageiro qualquer, a barca que o levaria a Niterói, onde morava.
Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo e Júnior, os quase heróis da Copa de 82, comandaram o início do êxodo para a Itália e outros países. Com eles ainda havia alguma ligação, mas, a partir daí, a relação só fez deteriorar-se.
O quadro atual é de completo distanciamento entre a “base” e a “cúpula”. A Seleção tem jogadores que jamais se projetaram no Brasil, havendo muitos que migraram ainda adolescentes. A maioria vive hoje nos ares e padrões europeus, possivelmente para sempre.
A imprensa esportiva faz seu papel, estimula as festas com bandeirolas em bairros populares, porque seus agentes correm o mundo de avião, fazem parte da “cúpula” e pensam que ainda vivem a nostálgica “cadeia verde e amarela, de norte a sul do país”. Mas a verdade é que o encanto está definitivamente quebrado.


quarta-feira, 23 de abril de 2014

MAL RESOLVIDO



Há muito, muito tempo, num país longínquo, dois monges puseram-se destemidamente a caminho de um mosteiro distante. Estava um belo dia de vento e chuva. Iam a pé, avançando lentamente por uma estrada de terra batida muito enlameada e cheia de poças de água.
A certa altura, viram uma mulher que queria atravessar a estrada mas que hesitava, pois percebia que ia sujar o seu bonito vestido comprido na lama. Um dos monges, o mais velho dos dois (tinha quarenta e tal anos, enquanto o outro andava pelos vinte e poucos), aproximou-se da mulher e, depois de a saudar com uma curta vénia e lhe pedir licença, ergueu-a no ar com gestos cuidadosos e respeitosos (evitou que o seu corpo tocasse no dela), e colocou-a do outro lado da estrada. Fez outra vénia, um pouco mais rasgada que a primeira, e assim que ela terminou as palavras de agradecimento retomou a caminhada, seguido de perto pelo outro monge.
Até ao momento em que encontraram a mulher, o monge mais novo tinha-se mostrado alegre e espirituoso, falando pelos cotovelos, mas agora ia calado e respondia com secos monossílabos às questões do companheiro. O seu ar era tão carrancudo que o silêncio se tornou mais sombrio e pesado que o céu, apesar deste ameaçar com uma tempestade. Horas depois, já mergulhados na escuridão da noite e quando o cansaço ameaçava transformar-se em dor, chegaram ao mosteiro. Rezaram e depois lavaram-se e comeram. O monge mais novo manteve sempre o seu silêncio irritado e ostensivo. Quando o seu companheiro já se preparava, com a tigela e a colher na mão, para se levantar é que, sem fitá-lo com o olhar pregado no chão, finalmente falou:
- Fizeste mal em pegar naquela mulher ao colo. Porventura esqueceste que fizemos um voto de castidade?
O monge mais velho sentou outra vez o corpo meio erguido, pousou devagar a tigela e a colher na madeira velha da mesa e fitou o outro monge com um imperceptível sorriso nos lábios. Observou-lhe primeiro as mãos, morenas e grandes mas sem marcas de trabalho, e depois olhou para dentro dos seus olhos, que logo fugiram para o lado e depois para o chão. Se os monges daquele distante mosteiro não se tivessem já recolhido teriam encontrado doçura e não dureza ou amargura na voz do monge mais velho:
- Eu deixei a mulher na estrada, há horas atrás. Tu ainda a trazes contigo.
Fotografia: Keystone, 1960. Encontrada no facebook do grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.
História: Lida não sei onde e recontada de memória.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

QUE PENSAR DOS “ROLEZINHOS”?


Publicado por Damásio de Jesus 

Pediram-me que tecesse alguns comentários acerca dos chamados “rolezinhos”, neologismo que vem sendo usado nas últimas semanas para designar as reuniões convocadas e incentivadas pelas redes sociais da internet – com o dinamismo extraordinário que lhes é próprio. Autores das convocações? Adolescentes que acorrem em grande número a determinados locais, geralmente shopping centers, para auto-afirmar sua identidade, protestar, ou simplesmente se divertir.
Essas reuniões, que por si já seriam perfeitamente normais e constituiriam meras manifestações da sociabilidade humana, têm provocado incidentes e tendem a configurar-se como mais uma forma de ameaça à tranquilidade pública. Com efeito, ainda que não seja delituoso o objetivo inicialmente pretendido pelos organizadores, estes praticamente desaparecem no meio de centenas ou até milhares de adolescentes que, com a dinâmica poderosíssima de um grupo colossal, ou melhor, com a dinâmica explosiva da Psicologia das Multidões, estudada por Gustave Le Bon ou Nelson Hungria, em seu estudo sobre os Crimes das Muldidões, se transformam numa incontrolável força.
Em recentes episódios, ocorridos em mais de um lugar, tais reuniões rápidamente degeneraram em verdadeiros arrastões, prejudicando o comércio local por efeito de furtos, roubos e danos à prorpriedade alheia, aterrorizando os frequentadores e promovendo desordens. O número colossal dos manifestantes torna quase impossível um controle eficaz por parte das equipes de segurança dos estabelecimentos, bem treinadas para impedir assaltos comuns ou para evacuarem o local em caso de incêndio, mas totalmente despreparadas para controlar multidões de pessoas com instintos primitivos soltos, de modo análogo àquele magistralmente descrito por Euclides da Cunhana em sua célebre passagem de “o estouro da boiada”. Nem sequer há como identificar líderes naquela massa humana.
As administrações de shoppings vêm recorrendo preventivamente à Justiça, solicitando proteção. Não é difícil fazê-lo, já que os “rolezinhos” são convocados abertamente pela internet, tendo, pois, hora e local previamente conhecidos. A Justiça tem despachado favoravelmente os pedidos de proteção especial requeridos pelos shoppings – o que é bem razoável, mas acarreta o grande inconveniente de, em alguma medida, ferir o direito sagrado de reunião, garantido como básico por nossa Constituição Federal.
Que pensar disso? Digo que o fenômeno dos rolezinhos é novo e não pode ser considerado somente do ponto de vista estritamente legal. Ele tem implicações psicológicas, sociológicas, econômicas e culturais. Uma análise mais atenta exigiria, pois, conhecimentos especializados de cada área científica.
Para permanecer em meu campo, que é o do Direito, somente posso fazer uma observação de caráter muito geral. No meu modo de entender, temos aí, claramente, um conflito de direitos, que cabe às autoridades constituídas resolver. Conflito de direitos entre: a. participantes dos rolezinhos (direito de reunião); b. público e consumidores; c. proprietários de estabelecimentos. Como resolver? Assegurando os direitos de todos sem que o exercício dos direitos de uns impeça o exercício dos direitos de outros.
Que os adolescentes têm o direito de se reunir e se manifestar, está claro. É até bom que o façam, preparando-se assim para o exercício pleno da cidadania. Nada obstaria a que o fizessem em locais de grande afluxo público, desde que respeitadas as regras razoáveis do convívio humano e social.
Mas, além do público em geral, também têm direitos os comerciantes estabelecidos nos shoppings, que pagam altos aluguéis para ali poder trabalhar; e também tem direitos o consumidor que frequenta tais locais, sabendo que pagará mais por produtos que encontraria por preços mais acessíveis em outros locais menos protegidos e mais inseguros. Os frequentadores de shoppings, pagando mais, estão também comprando proteção e tranquilidade. Não é justo, em princípio, que arquem eles com os ônus decorrentes do exercício dos direitos de reunião dos participantes de “rolezinhos”. Cabe aos poderes públicos estudar com urgência o fenômeno em todos os seus aspectos, e agir de modo a assegurar que todos tenham seus direitos respeitados, com os limites marcados pelas próprias normas legais, de modo a não ferir direitos de outrem. As decisões das autoridades judiciárias e administrativas ainda são conflitantes, algumas condenando, outras permitindo e outras ainda como que aguardando novos estudos. No momento, creio que as apreciações e decisões sobre o tema devem ser prudentes, salvo se o fenômeno atingir bens jurídicos, caso em que o poder público deve intervir com eficacia e prontidão.

SÃO SÓ "ROLEZINHOS"

SÃO SÓ "ROLEZINHOS"

FOLHA DE S. PAULO
17/1/2014

Reação destemperada da polícia e liminares judiciais podem alterar o caráter despretensioso de encontros de jovens em shoppings

"Não perco meu tempo em manifestações, os políticos vão continuar roubando", afirma Lucas Lima, 17, frequentador dos chamados "rolezinhos". Ele garante que, em dois desses eventos recentes, beijou "16 ou 17 meninas".
Os encontros servem, segundo as convocações nas redes sociais, para "zoar, rolar umas paqueras, pegar geral e se divertir". Realizados em shoppings centers paulistanos, atraem centenas de adolescentes, em geral da periferia.
A despeito de seu caráter festivo e despretensioso, a novidade logo incomodou lojistas, consumidores e políticos. Durante os "rolezinhos", os adolescentes, divididos em vários grupos, caminham ou correm pelos corredores do centro de compras, cantando funk.
Não é só o corre-corre que assusta. Houve casos isolados de furto e depredação, que obviamente devem ser punidos. Além disso, diante de qualquer multidão, e de um fenômeno que só agora começa a se compreender, chega a ser automática a reação defensiva que, a princípio, muitos tiveram.
Passado o susto inicial, no entanto, essas reuniões poderiam, sem nenhum prejuízo, ser incorporadas à rotina da cidade.
Alguns proprietários de shoppings não pensaram dessa maneira. Imaginando que os "rolezinhos" ameaçavam a segurança de clientes e lojas, recorreram à Justiça para impedir sua realização.
Pior, alguns juízes consideraram bem fundamentada a preocupação e fixaram multa de até R$ 10 mil a quem participasse de determinados encontros. Em certos casos, jovens foram proibidos de entrar nos estabelecimentos.
Decisões desse tipo são indefensáveis. Baseiam-se na maldisfarçada e injusta noção de que moradores da periferia, reunidos em grupos, pretendem furtar ou roubar.
Embora privados, os shoppings são locais de acesso público. Funcionam menos como a casa de um particular e mais como hotéis ou restaurantes. Podem, se quiserem, criar regras para os clientes --por exemplo, dizendo que não aceitarão pessoas em trajes de banho.
Tais normas, porém, precisam valer para todos, e sua aplicação prática pode facilmente se confundir com crimes de preconceito.
De resto, como defender a priori que jovens, por serem da periferia, perturbarão a paz pública? Se incorrerem nessa contravenção, devem ser punidos, assim como se cometerem um crime mais grave. O veto prévio, todavia, tem natureza claramente discriminatória.
Dadas as intenções originais, esses eventos, como testemunho das transformações por que passa o Brasil, dificilmente fariam mais que evidenciar a carência de espaços públicos de convívio social.
A exemplo do que se deu com as manifestações de junho de 2013, no entanto, a reação destemperada da polícia, desta vez auxiliada pelo Judiciário e apoiada por proprietários de shoppings, pode dar aos "rolezinhos" uma dimensão que eles não têm --ou não tinham.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

VIA DUPLA NO COMBATE À CORRUPÇÃO


EDITORIAL
O GLOBO
20/8/2013

O julgamento do mensalão não para de gerar tensões. Quando se esperava que a avaliação dos embargos de declaração, em que parece haver grande maioria pela sua rejeição, transcorreria com rapidez e objetividade, mais um choque entre os ministros Joaquim Barbosa, presidente da Corte e relator do processo, e Ricardo Lewandowski, revisor do caso, restabeleceu a atmosfera pesada que pairou sobre algumas das 49 sessões do julgamento propriamente dito. E voltou-se a correr o risco de novas protelações.
Pela importância para as próprias instituições da democracia representativa, o julgamento potencializa atitudes e declarações. No caso das pendências entre Barbosa e Lewandowski, espera-se que a rusga não retarde ainda mais os trabalhos. Nesta fase de julgamento de recursos, em que o grande destaque será a decisão sobre a possibilidade de impetração de embargos infringentes, capazes de permitir novo julgamento a quem teve pelo menos quatro votos a favor, acompanha-se com atenção o comportamento dos dois novos ministros da Corte, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso.
Ao estrear na Corte, Barroso, conhecido pelo saber jurídico, fez uma avaliação do caso na qual procurou levar para o plano institucional o escândalo do mensalão, marcado para sempre na história do PT. Entende o novo ministro do STF que "não existe corrupção do PT, do PSDB ou do PMDB. Existe corrupção".
De fato, embora haja custos específicos para cada corrente política pilhada em "malfeitos". Pela visão mais institucional do ministro, a solução eficaz contra a corrupção na vida pública será uma reforma política, em vez de cadeia e outras punições legais. A tese não é nova e, reconheça-se, aborda aspecto relevante do problema. Há distorções - mas nem tantas assim - na legislação à qual se subordinam partidos e políticos que, eliminadas, facilitarão o combate a desvios éticos contumazes na política nacional.
Havia, por exemplo, grave brecha no aparato legal de que dispõe a Justiça Eleitoral para defender os preceitos de lisura, honestidade, estabelecidos pela Constituição para o ingresso na vida pública. A Lei da Ficha Limpa, de origem popular, veio impedir que condenados sem o veredicto confirmado em instância final continuassem, em nome da "presunção da inocência", a registrar suas candidaturas e se proteger da polícia com o escudo das imunidades concedidas a donos de cargos eletivos.
Mas, independentemente de reformas políticas, a Justiça tem importante função no combate aos crimes de colarinho branco cometidos na esfera da política: a de punir. Assim, as diversas Cortes do Judiciário contribuem para a moralização na esfera pública ao reduzir o sentimento de impunidade existente na sociedade e dentro do Estado.
Uma coisa não elimina a outra: reformar leis enquanto se despacha para a cadeia quem merece, com a base na legislação em vigor.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A USP SE MOVE

FOLHA DE S. PAULO
8/8/2013

É difícil encontrar um ângulo de avaliação em que a Universidade de São Paulo não desponte como a principal do país.
Com mais de 57 mil alunos, 239 programas de pós-graduação e a quinta posição no mundo em quantidade de artigos científicos publicados, a instituição criada em 1934 não encontra rival no Brasil.
Tampouco no panorama internacional a USP faz má figura. Melhor universidade da América Latina em mais de um ranking, aparece na 70ª posição da lista mundial de reputação compilada pelo grupo "Times Higher Education" (ainda que, na classificação geral, apareça em 158ª lugar entre 400 instituições de ensino superior).
Nessas condições, aparecia como aberração a USP se recusar a tomar parte no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação (MEC).
Esse erro agora começa a ser sanado. A universidade paulista anunciou um convênio com o MEC e o Inep para aderir ao exame --ainda que de forma experimental, pelos próximos três anos.
Até dar esse passo, a USP se escudava em objeções metodológicas e na defesa da própria autonomia para evitar o instrumento de avaliação e de comparação padronizada do ensino superior no país.
O Enade é obrigatório para universidades federais e privadas e facultativo para as estaduais e municipais, mas as outras duas instituições paulistas --Unesp e Unicamp-- já haviam aderido.
Isolada, a USP só alentava a interpretação de que sua comunidade acadêmica temia não se sair tão bem no cotejo direto de seus alunos com os de outras instituições.
Isso é pouco provável, de resto, em face do cabedal reunido pela universidade em seus 79 anos. Por outro lado, nada garante que venha a ocupar a primeira colocação nacional em todos os quesitos, como pretenderiam seus luminares.
Tal interpretação maliciosa passa a perder lastro. Ainda que nesta fase piloto a USP faculte a seus estudantes realizar ou não a prova e prometa por ora manter os resultados em segredo, a anunciada disposição de pôr sua massa crítica para produzir pesquisas acadêmicas sobre o exame, a fim de aperfeiçoá-lo, torna moralmente mais custosa para a universidade uma eventual defecção à frente.
A USP é um patrimônio público, cujo funcionamento se custeia com dinheiro dos contribuintes --primordialmente saído dos cofres estaduais, mas também com verbas de pesquisa federais. Deve satisfação, portanto, à sociedade que a sustenta. Submeter-se a avaliações comparativas não é mais que parte importante dessa obrigação.

COMBATER A CORRUPÇÃO

FOLHA DE S. PAULO
8/8/2013

Meta do CNJ cobra rapidez no julgamento de ações por desvio de recursos públicos, mas tribunais têm ritmo mais lento que o esperado

Entre as 19 metas recomendadas pelo Conselho Nacional de Justiça aos tribunais brasileiros para este ano está a proposta de identificar e julgar todos os processos por corrupção e desvios dos cofres públicos distribuídos até o fim de 2011.
Boas razões não faltam para que esse esforço, em certa medida moralizador da política e do próprio Poder Judiciário, seja elogiado.
Não tanto pelos resultados em termos de celeridade processual --representando cerca de 0,2% dos mais de 63 milhões de ações que tramitam no país, os casos de improbidade e crimes contra a administração pública pouco poderiam fazer para desafogar a Justiça.
É pelo inegável efeito simbólico que se impõe a diretriz do CNJ. A sociedade, lesada pelos ataques ao patrimônio público, pode sentir-se menos impotente perante políticos que raras vezes chegam a ser condenados.
Há ainda um efeito mais concreto. Se considerados culpados pelos tribunais --ou seja, por um órgão colegiado--, políticos corruptos estarão impedidos, por força da Lei da Ficha Limpa, de concorrer em eleições pelos próximos oito anos.
Além disso, a partir de uma condenação, a Justiça pode cobrar dos agentes públicos a devolução, aos cofres do Estado, dos valores tomados de forma delituosa, ao que se acrescem multas e correções.
Diante de tantos benefícios, é lamentável que a meta 18 do CNJ não tenha recebido, por parte de alguns magistrados, a atenção que merece. Levantamento do fim de julho mostrou que só 39,77% dos 120.981 processos identificados já foram julgados. A expectativa do órgão era que, a essa altura, 75% das ações estivessem decididas.
Discrepâncias significativas são percebidas na comparação entre os diversos tribunais estaduais. O cumprimento da meta chega perto de 100% no Paraná e em Sergipe, enquanto Bahia e Piauí julgaram menos de 6% das ações.
Estados com baixo percentual de implementação da meta receberão a visita de equipes do CNJ, que pretendem auxiliá-los a resolver tais processos --de razoável grau de complexidade e longa fase de instrução.
Caso seja identificada negligência nas cortes, para nada falar de má-fé, a Corregedoria Nacional de Justiça pode instaurar processo disciplinar contra os responsáveis.
É bom que o faça. Agentes políticos, ainda hoje, apostam que seus processos tardarão tanto na Justiça que os crimes terminarão prescritos. Essa impunidade, garantida por práticas arcaicas dos tribunais, precisa acabar.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

AGOSTO DE RISCO


FOLHA DE S. PAULO
1/8/2013

Não bastassem os sinais de deterioração da economia brasileira, presidente vê-se ameaçada de perder o controle sobre a política

A presidente Dilma Rousseff sabe que não são poucos nem pequenos os perigos que seu governo correrá neste mês de agosto.
Oficialmente de volta aos trabalhos hoje, deputados e senadores devem encaminhar, a partir da próxima semana, a votação de diversos projetos que contrariam os interesses do Planalto.
Entra nessa lista, por exemplo, a promessa, feita pela bancada do PMDB, de apresentar proposta de emenda constitucional a fim de reduzir de 39 para 20 o total de ministérios do governo Dilma.
Premida pelos próprios aliados, a presidente decidiu liberar R$ 2 bilhões em emendas feitas pelos congressistas ao Orçamento da União --e outros R$ 4 bilhões devem ser autorizados em setembro.
Salvo nos recorrentes episódios de corrupção, o dinheiro dessas emendas costuma ser aplicado pelos parlamentares no atendimento de demandas paroquiais. Verbas, portanto, cruciais para a sobrevivência eleitoral de quem já dispõe de uma cadeira no Congresso.
Não seria difícil perceber nas entrelinhas dessa negociação o conhecido "toma lá, dá cá" que predomina nas relações entre Executivos e Legislativos. Dilma, porém, talvez por sua falta de disposição para o trato político, achou que seria o caso de explicitar todas as cláusulas desse contrato.
Em reunião à qual compareceram ministros do PT, do PMDB, do PP, do PC do B e do PSB, a presidente avisou que eles deverão garantir a fidelidade das bancadas de seus respectivos partidos no Congresso --o que nem sempre tem ocorrido, embora essas siglas componham o primeiro escalão federal.
Há dúvidas, no entanto, de que a operação possa alcançar os fins esperados. O Congresso já vinha se mostrando arisco mesmo quando Dilma se refestelava em níveis recordes de popularidade. Depois que os protestos de junho fizeram desabar a aprovação presidencial, seria imprudente apostar na lealdade dos aliados.
Se prevalecer o espírito de vingança dos congressistas, o governo pode sair derrotado em votações de projetos importantes e potencialmente custosos, como o que define o destino dos recursos arrecadados com a exploração do petróleo; o que aumenta a alíquota dos royalties da mineração; e o que cria o passe livre para estudantes no transporte público de todo o país.
Já não são poucos os sinais de deterioração da economia brasileira na gestão de Dilma Rousseff. A presidente, agora, vê-se ameaçada de perder também o controle da política nacional.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O Papel do Indivíduo na História

Abaixo um trecho do livro "O Papel do Indivíduo na História", no qual Plekanov ressalta a necessidade da militância revolucionária para a superação da sociedade capitalista.
"A história decorre em função de leis objetivas, mas os homens fazem a história, quer dizer, fazem-na avançar ou atrasam-na consideravelmente na medida em que atuam ou não em função dessas leis. Na verdade, a história prepara, segundo as leis de seu desenvolvimento, as condições das transformações revolucionárias, mas sem indivíduos que se dediquem à organização, à teoria revolucionária, à preparação das massas em lutas concretas, não há revolução.

Da mesma forma que todos os rios, por mais tortuosos que sejam seus caminhos, correm sempre para uma determinada direção, os povos, por mais peculiar que seja o trajeto de seu desenvolvimento histórico, obedecem à lógica objetiva geral do processo histórico.

Mas, nenhum sistema social, por mais caduco, morre por si só. Somente a luta conduz à tumba. Daí porque o capitalismo não morrerá de morte natural, senão pela ação consciente e organizada dos povos, através de suas organizações revolucionárias".

quarta-feira, 31 de julho de 2013

INFLUÊNCIA NEFASTA


GAZETA DO POVO PR)
31/7/2013

Dilma diz que Lula “nunca saiu” do governo e que ambos “são indissociáveis”, o que explica uma série de atitudes da presidente, como a manutenção dos absurdos 39 ministérios, na contramão das ruas, que pedem menos desperdício e menos corrupção

“O Lula não vai voltar porque nunca saiu”, disse a presidente Dilma Rousseff ao ser indagada pela Folha de S.Paulo sobre movimentos políticos – inclusive dentro de seu partido, o PT – que pretendem que Lula dispute a Presidência no ano que vem, tirando dela a intenção de se reeleger. Dilma diz que não discute sucessão e nem se incomoda com esse tipo de pregação, mesmo porque, segundo ela, “eu e Lula somos indissociáveis”.
Tais declarações, somadas às incontáveis vezes em que a presidente se abalou de Brasília para ir a São Paulo aconselhar-se com o ex-presidente, tiram de Dilma o que aos brasileiros pareciam ser as maiores marcas de seu perfil político e administrativo: uma gestora eficaz no comando de equipes, detentora de opiniões claras, sólidas e firmes, e possuidora de forte personalidade forjada nas agruras da vida de militante de esquerda durante a ditadura militar, contra a qual empunhou armas.
Os primeiros meses de seu mandato pareciam confirmar tais atributos. Aparentemente intolerante com a corrupção e com os desvios de comportamento de integrantes do primeiro escalão, demitiu nada menos de seis ministros – no que ficou conhecido como a “faxina da Dilma”. Na aparência, a criatura dava sinais de que pretendia se distanciar da figura de seu criador, buscando impor sua presença como líder do próprio governo.
Não demorou muito para que a primeira impressão logo se desvanecesse, pois o lugar dos demitidos passou a ser ocupado de acordo com os mesmos critérios fisiológicos e amorais antes utilizados para a escolha dos primeiros. Serviu-se a presidente dos mesmos requisitos – tão largamente usados por Lula – para manter sua maioria congressual, isto é, os de dar aos caciques partidários e líderes do Congresso a função de indicar-lhe os substitutos. Critério técnico nenhum. Interessou-lhe mais a manutenção de maioria obediente em nome do que se convenciona chamar, impropriamente, de “governabilidade”. Não por outro motivo é que ela ainda resiste à redução do paquidérmico gabinete de 39 ministérios.
Nesse ponto se traduz a mais nefasta influência que Lula (com seus “conselhos”) exerce sobre a presidente. Afinal, por maiores que sejam os defeitos dela, dentre os quais o viés da centralização excessiva (e paralisante), há de se reconhecer que Dilma difere do ex-presidente no que diz respeito ao grau de integridade. E mais: percebe-se nela um genuíno desejo de fazer as coisas, como tem demonstrado no campo da infraestrutura, muito embora sejam ainda ralos os efeitos práticos. E, por fim, bem ao contrário de Lula, conhecido predador das instituições democráticas – como se viu principalmente no escândalo do mensalão, transcorrido em seu mandato – Dilma demonstra por elas um maior respeito.
Não faz bem à presidente, ao seu governo e, principalmente, ao próprio país que Dilma não consiga se libertar desse paralelismo – uma espécie de shadow cabinet às avessas representado por Lula, que sai das sombras quando lhe convém mostrar protagonismo, assim como volta para elas quando seu agudo senso de oportunismo o aconselha. Alguém viu Lula quando as ruas se encheram de manifestantes que, entre outras razões, clamavam exatamente pela condenação da herança que deixou?
Assim, conclui-se, não se sabe se por ingenuidade ou por verdadeiro respeito, Dilma Rousseff se diz indissociável de Lula. É preferível acreditar na primeira hipótese.

O que pensa a mídia - editoriais de alhuns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

sexta-feira, 26 de julho de 2013

MENSAGEM AOS JOVENS


Que Deus abençoe a juventude!
Os jovens são as primeiras luzes do amanhecer do futuro.
Cuidar de os preservar para os graves compromissos que lhes estão destinados constitui o inadiável desafio da educação.
Criar-se condições apropriadas para o seu desenvolvimento intelecto-moral e espiritual, é o dever da geração moderna, de modo que venham a dispor dos recursos valiosos para o desempenho dos deveres para os quais renasceram.
Os jovens de hoje são, portanto, a sociedade de amanhã, e essa, evidentemente, se apresentará portadora dos tesouros que lhes sejam propiciados desde hoje para a vitória desses nautas do porvir.
Numa sociedade permissiva e utilitarista com esta vigoram os convites para a luxúria, o consumismo, a excentricidade irresponsáveis.
Enquanto as esquinas do prazer multiplicam-se em toda parte, a austeridade moral banaliza-se a soldo das situações e circunstâncias reprocháveis que lhes são oferecidas como objetivos a alcançar.
À medida que a promiscuidade torna-se a palavra de ordem, os corpos jovens ávidos de prazer afogam-se no pântano do gozo para o qual ainda não dispõem das resistências morais e do discernimento emocional.
Os apelos a que se encontram expostos desgastam-nos antes do amadurecimento psicológico para os enfrentamentos, dando lugar, primeiro, à contaminação morbosa para a larga consumpção da existência desperdiçada.
Todo jovem anseia por um lugar ao Sol, a fim de alcançar o que supõe ser a felicidade.
Informados equivocadamente sobre o que é ser feliz, ora por castrações religiosas, familiares, sociológicas, outras vezes, liberados excessivamente, não sabem eleger o comportamento que pode proporcionar a plenitude, derrapando em comportamentos infelizes…
Na fase juvenil o organismo explode de energia que deverá ser canalizada para o estudo, as disciplinas morais, os exercícios de equilíbrio, a fim de que se transforme em vigor capaz de resistir a todas as vicissitudes do processo evolutivo.
Não é fácil manter-se jovem e saudável num grupo social pervertido e sem sentido ou objetivo dignificante…
Não desistam os jovens de reivindicar os seus direitos de cidadania, de clamar pela justiça social, de insistir pelos recursos que lhe são destinados pela Vida.
Direcionando o pensamento para a harmonia, embora os desastres de vário porte que acontecem continuamente, trabalhar pela preservação da paz, do apoio aos fracos e oprimidos, aos esfaimados e enfermos, às crianças e às mulheres, aos idosos e aos párias e excluídos dos círculos da hipocrisia, é um programa desafiador que aguarda a ação vigorosa.
Buscar a autenticidade e o sentido da existência é parte fundamental do seu compromisso de desenvolvimento ético.
A juventude orgânica do ser humano, embora seja a mais longa do reino animal, é de breve curso, porquanto logo se esboçam as características de adulto quando os efeitos já se apresentam.
É verdade que este é o mundo de angústias que as gerações passadas, estruturadas em guerras e privilégios para uns em detrimento de outros, quando o idealismo ancestral cedeu lugar ao niilismo aniquilador e a força do poder predominava, edificaram como os ideais de vida para a Humanidade.
É hora de refazer e de recompor.
O tempo urge no relógio da evolução humana.
Escrevendo a Timóteo, seu discípulo amado, o apóstolo Paulo exortava-o a ser sóbrio em todas as coisas, suportar os sofrimentos, a fazer a obra dum evangelista, a desempenhar bem o teu ministério. (*)
Juventude formosa e sonhadora!
Tudo quanto contemples em forma de corrupção, de degredo, de miséria, é a herança maléfica da insensatez e da crueldade.
Necessário que pares na correria alucinada pelos tóxicos da ilusão e reflexiones, pois que estes são os teus dias de preparação, a fim de que não repitas, mais tarde, tudo quanto agora censuras ou te permites em fuga emocional, evitando o enfrentamento indispensável ao triunfo pessoal.
O alvorecer borda de cores a noite sombria na qual se homiziam o crime e a sordidez.
Faze luz desde agora, não te comprometendo com o mal, não te asfixiando nos vapores que embriagam os sentidos e vilipendiam o ser.
És o amanhecer!
Indispensável clarear todas as sombras com a soberana luz do amor e caminhar com segurança na direção do dia pleno.
Não te permitas corromper pelos astutos triunfadores de um dia. Eles já foram jovens e enfermaram muito cedo, enquanto desfrutas do conhecimento saudável da vida condigna.
Apontando o caminho a um jovem rico que O interrogou como conseguir o Reino dos Céus, Jesus respondeu com firmeza: - Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos Céus, depois vem e segue-me... iniciando o esforço agora.
Não há outra alternativa a seguir.
Vende ao amor as tuas forças e segue o Mestre Incomparável hoje, porque amanhã, possivelmente, será tarde demais.
Hoje é o teu dia.
Avança!

Joanna de Ângelis

(*)II Timóteo 4:5.
(1) Mateus 19:21.
Notas da autora espiritual.

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 22 de julho de 2013, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia, quando o Papa Francisco chegou ao Brasil, para iniciar a 28ª Jornada Mundial da Juventude.)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Violência urbana



Publicado por Damásio de Jesus      


A violência urbana, que nos faz vítimas todos os dias, consistente em assaltos, agressões físicas, estupros, sequestros, homicídios e tantos outros delitos, não é nova, existindo desde épocas remotas. Atualmente, sua natureza e formas de manifestação expressam-se conforme as condições das cidades, consideradas estas as regiões urbanas que possuem mais de 25 mil habitantes. Dependem das condições sociais e econômicas das comunidades. Assim, nos aglomerados desenvolvidos são cometidos mais crimes contra a propriedade; nos em desenvolvimento, delitos contra a pessoa, como lesões corporais e homicídios.

Experiências com ratos demonstraram que, agrupados em gaiolas, enquanto em pequeno número não se lesavam. Quando, entretanto, maior o número de animais nas gaiolas, aumentavam os ataques entre eles, chegando até à formação de quadrilhas para subtrair alimentos das vítimas. No plano da humanidade, quanto maior o número de habitantes em uma cidade, maior é o de violência urbana. Nos idos de 1970, as cidades, a partir de 200 mil habitantes, começavam a sofrer questões de delinquência e vitimação. Hoje, em face do progresso da tecnologia e dos meios de comunicação e transporte, essas ocorrências têm aumentado significativamente.
Em certos casos, devido à perseguição da polícia, há migração de criminosos para zonas em que a repressão é menos intensa, abarcando sua atividade zonas inteiras, compostas de várias comunidades. É o que ocorre em determinadas regiões do Estado de São Paulo, nas quais, até décadas atrás, passavam-se anos e anos sem a prática de homicídios. Em Marília, interior de São Paulo, durante anos a prática de homicídio era muito rara. Nos dias atuais, a taxa anual de ataques físicos tem aumentado cerca de 30%. É o que ocorre, por exemplo, na cidade de Bauru (SP), em que a taxa de homicídios cresceu 30% nos últimos anos.
Circunstância especial a ser apontada, anote-se, é a construção de centenas de presídios fora dos grandes centros. Ao lado deles, em pouco tempo, mudam-se os familiares de detentos, formando comunidades sem proteção social.
A violência urbana, na faixa de furtos e roubos a mão armada, ocorre geralmente nas grandes cidades, onde o número de vítimas presumivelmente abastadas é maior. Nas cidades menores, a vitimação apontada alcança o tráfico nacional e internacional de seres humanos, onde se acredita viverem vítimas menos experientes do que as de grandes centros. Mas nem sempre isso acontece, uma vez que os autores de pequenos assaltos contentam-se com quantias pequenas de dinheiro, geralmente na casa dos R$ 10 a R$ 200,00, capazes de permitir a compra de doses suficientes de maconha e outras drogas. Recentemente, as companhias de turismo da França recomendaram que os visitantes, quando na cidade do Rio de Janeiro, estivessem com R$ 50,00 para entregar ao ladrão.
A população urbana de hoje é maior do que o total mundial de 2000. Acredita-se que, em um futuro bem próximo, 70% das pessoas passem a viver nas grandes cidades. Entre nós, esse fenômeno social já está ocorrendo há muitos anos, espantando o número de pessoas que, deixando os campos, transferem-se para as cidades. No interior de SP, não é difícil ver abandonadas colônias inteiras de casas de fazendas, onde moravam milhares de famílias de trabalhadores rurais. Nos dias atuais ainda é possível ver, nas regiões de Duartina, Marília e Arealva (SP), fileiras de casas de colonos abandonadas por famílias que fugiram para cidades à procura de vida melhor.
Vindo para os grandes centros, engrossam o número de desabrigados, sem emprego e sem rumo. Em alguns casos, as filhas servem de vítima de tráfico sexual internacional; os filhos às vezes desabam para as drogas e o crime. No interior de São Paulo, temos conhecimento de alguns filhos de antigos sitiantes e trabalhadores rurais que, vindo para as cidades grandes, dada a sua possível ingenuidade e falta de conhecimento dos perigos dos relacionamentos sociais, engrossam a delinquência juvenil e não raro são confundidos pela polícia como componentes de quadrilhas especializadas em comércio de drogas, armas de fogo e pequenos assaltos.
No plano constitucional brasileiro, compete ao Estado, e não ao Município ou à União, a repressão à atividade delinquencial urbana. Dado o aumento da população, os Estados, diante da pequenez da quantia por eles recebida dos valores dos tributos arrecadados pela União, não têm condições de proteger os cidadãos nas suas comunidades. Os Municípios, por razões legais e financeiras, são quase inertes em termos de segurança pública. E as comunidades, pelas mesmas razões, mostram-se prostradas diante dos furtos, roubos e sequestros. O resultado é desastroso, transformando-nos em vítimas pacatas e sem esperança.
Estima-se que, em 2030, 30% dos pobres do mundo inteiro estejam vivendo nas grandes cidades; em 2050, esse número passará a 50%. Desse total, entre 30% e 70% não terão condições sociais de vida (saúde, educação, emprego etc.). Nessa época, no Brasil, pesquisa do final do século passado sobre nosso futuro indicava a existência de 60% de miseráveis. Temos esperança de que isso não ocorra.
A prevenção à criminalidade urbana, inclusive a violenta, só pode ter sucesso por intermédio de uma inclusão humana social, econômica e política. Não se reduz a criminalidade a níveis razoáveis unicamente por meio da lei, definindo novos fatos típicos, agravando a resposta penal e excluindo benefícios. É uma verdade secular, já vivida pelo nosso País há longos anos com enorme prejuízo à segurança pública.
A repressão à violência urbana não se faz à força, como se prendendo criminosos tivéssemos cidades limpas de péssimos indivíduos. Isso se faz, em primeiro lugar, pela educação, esperando-se resultados positivos no futuro.