quinta-feira, 24 de abril de 2014

Distância da Seleção ajuda a rejeitar Copa

Data: 23/04/2014
22:28:21
Um dos fatores que mais contribuem para a tendência brasileira, constatada em pesquisas, a rejeitar a Copa do Mundo, ao lado da evidente insatisfação popular com a corrupção e os serviços públicos, é a crescente falta de identidade com a Seleção Brasileira.
Nos tempos em que vigia o conceito nelsonrodrigueano de “pátria de chuteiras”, seria uma heresia menosprezar a competição, ainda mais no próprio país, quando todos poderiam exercitar ao vivo os briosos sentimentos nacionais.
Houve uma tentativa de misturar as coisas durante o regime militar, estimulando-se a torcida contrária em certos segmentos políticos para confrontar o uso descaradamente político da Copa de 70 pela ditadura.
Não funcionou, primeiro, porque não ocorreu, em razão da própria censura e da repressão, um movimento orgânico nesse sentido. Depois, era forte o vínculo entre o orgulhoso torcedor e o “escrete canarinho”, redentor de todos os medos e vergonhas.
A história começou longe, ditada pela proximidade física e espiritual entre a população e os jogadores, todos atuando aqui mesmo, nos clubes do coração de cada um, relação que começou a mudar na década de 80, quando teve início a exportação em massa de nossos craques.
Zizinho, um deus vivo na época praticamente amadora do futebol brasileiro, saía do Maracanã após jogar partidas pela Copa de 50 e ia pegar, com sua sacola na mão, como um passageiro qualquer, a barca que o levaria a Niterói, onde morava.
Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo e Júnior, os quase heróis da Copa de 82, comandaram o início do êxodo para a Itália e outros países. Com eles ainda havia alguma ligação, mas, a partir daí, a relação só fez deteriorar-se.
O quadro atual é de completo distanciamento entre a “base” e a “cúpula”. A Seleção tem jogadores que jamais se projetaram no Brasil, havendo muitos que migraram ainda adolescentes. A maioria vive hoje nos ares e padrões europeus, possivelmente para sempre.
A imprensa esportiva faz seu papel, estimula as festas com bandeirolas em bairros populares, porque seus agentes correm o mundo de avião, fazem parte da “cúpula” e pensam que ainda vivem a nostálgica “cadeia verde e amarela, de norte a sul do país”. Mas a verdade é que o encanto está definitivamente quebrado.


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