O que é a caridade? Comece a palestra questionando isso. Seria darmos
esmolas, levarmos comida aos necessitados, comprarmos uma rifa beneficente?
Fazer isso nos daria a consciência tranquila do dever cumprido como cristãos?
Este tipo de comentário fará o ouvinte refletir sobre seu posicionamento frente
à vida. Ele estará mais apto a absorver os ensinos que lhe serão ministrados.
Paulo, nesta passagem, mostra aos cristãos de Corinto que a caridade é algo
muito mais profundo e importante do que apenas darmos o que nos sobra aos
carentes. Embora isto também seja um ato caritativo, não resume a grandiosidade
desta virtude.
Procure, após a introdução, ler por completa a mensagem do apóstolo. Depois,
comente seus trechos, de forma a relacionar cada frase com o que faria parte da
verdadeira caridade.
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse
caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine".
Este trecho é um alerta a todos os que são oradores, sejam espíritas,
católicos, evangélicos, umbandistas, ou qualquer pregador que fale dos ensinos
divinos. De nada adianta ser belo na palavra e pobre de ações. O exemplo de
mudança íntima, de luta constante contra as imperfeições, deve fazer parte
da vida dos que se dedicam a divulgar a mensagem cristã. Conheceremos se a
árvore é boa pelos frutos, alertou Jesus. Caso contrário, a palavra será como o
sino que tine, ou seja, fará muito barulho e chamará a atenção, mas não
modificará os corações e inteligências a que é direcionada.
"E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios
e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse
os montes, e não tivesse caridade, nada seria."
Ter conhecimento espiritual não faz do ser um indivíduo caridoso. É Jesus
mesmo que se diz agradecido a Deus, por haver escondido os mistérios divinos dos
sábios e os revelado aos simples (Mateus, cap. XI), referindo-se ao sentimento e
à fé nos ensinamentos espirituais. A mediunidade e o entendimento das Leis do
universo dão sim ao ser maior responsabilidade frente à vida, e de posse disso
devem seus detentores modificar suas condutas e buscar a humildade.
A fé também não é sinônimo de caridade, pois sem obras é morta,
segundo o apóstolo Tiago, em sua Epístola, cap. II, vers. 17. Com a afirmativa
de que por mais fé que tivermos em Deus e em nossas próprias forças nada seremos
se não tivermos a caridade, Paulo chama a atenção dos religiosos em geral.
Muitos de nós acreditamos que a crença inabalável é porta aberta para ajuda do
Alto. Porém, se não nos ajudarmos, praticando aquilo em que cremos através do
bom exemplo, qual a vantagem de possuir fé?
" E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos
pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse
caridade, nada disso me aproveitaria".
Dar esmolas e acabar com a necessidade material do próximo é muito
importante. Mas preciso é alertar às pessoas que tudo depende da intenção. Se
fizermos a doação material com o objetivo de aparecermos aos outros, ou então
para aliviarmos nossa consciência, estaremos nos enganando. Além disso, corremos
o risco de ajudar ao necessitado, mas humilhá-lo ao mesmo tempo, com um ar de
superioridade que o ferirá. A doação desinteressada deve brotar da
compreensão da Lei de Deus, tornando-nos irmãos de quem ajudamos e tendo como
único fim o amparo e alívio do sofredor.
Ainda neste trecho, Paulo instrui de que nada adianta nos auto-flagelarmos, com
o intuito de mostrarmos para quem nos vê que somos crentes em Deus. Mais
importante que castigar o corpo, com privações e sofrimentos, é sufocar as más
tendências, verdadeiras mães de nossas desgraças.
"A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não
trata com leviandade; não se ensoberbece".
O apóstolo mostra que a verdadeira caridade traz a resignação, que é o
entendimento das dificuldades da vida como obstáculos a serem vencidos,
objetivando o progresso espiritual. Alia a bondade para com todos, independente
do momento, pois a vingança e o ódio corroem o sentimento e turbam os sentidos
racionais, enquanto o perdão enobrece o ser. Diz ainda que a prudência
deve fazer parte de quem busca a caridade, pois ser leviano traz conseqüências
inesperadas, e o orgulho do homem pode contribuir para o afastamento de Deus.
"Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se
irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade".
Em um mundo onde o que mais vale é a satisfação pessoal, mesmo em detrimento
da paz alheia, a caridade busca decência e fraternidade. O público precisa ser
levado a refletir sobre de que adianta levarmos vantagem em tudo se alguém
estiver sofrendo com isso? Com certeza, esta dor do próximo será revertida em
desespero, rancor, violência, que mais cedo ou mais tarde, acabará voltando-se
contra nós mesmos, nossos filhos ou amigos.
Irritar-se é a melhor forma de perdermos a razão, por isso a paciência e
a sensatez fazem parte da caridade, levando o homem a pensar antes de agir.
Assim, devemos lembrar ao assistente que a justiça irá se fazer mais presente em
nossa sociedade, libertando os seres das mentiras e intrigas que envolvem
interesses pessoais. É a verdade prevalecendo, e só ela pode nos libertar da
ignorância, disse Jesus.
"Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".
Tudo tem sua hora. Saber esperar é próprio da caridade. Quando o ser amplia
sua visão além da vida material, vê no horizonte a luz necessária para manter-se
animado e vivo. Busca na sabedoria cristã o esclarecimento para suas
dúvidas, deixando de lado o desespero. É o caminho do equilíbrio proporcionado
pela caridade.
"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior
destas é a caridade" ( Paulo, I Coríntios, cap. XIII, vers. 1 ao 13).
Mudança íntima, humildade, obras, exemplo, doação desinteressada, resignação,
bondade, perdão, prudência, decência, razão, tranqüilidade, sabedoria, justiça,
amor ao próximo como a si mesmo. Agora é o momento de mostrar ao assistente o
que verdadeiramente Paulo diz sobre o que é a caridade: um conjunto de atributos
morais e intelectuais, que fará do Espírito ser dono de seu próprio destino.
A fé e a esperança, indispensáveis para uma existência sensata e confiante, são
assessoras da caridade, que será o sentimento principal a ser buscado pelo homem
de bem, libertando de seu egoísmo e encaminhando-o para o Reino de Deus.
"Todos os deveres do homem se encontram resumidos na máxima: Fora da
caridade não há salvação (Allan Kardec, Evang. S. Esp., cap.XV, item 5).
Após a passagem de Paulo, o palestrante leva o ouvinte à citação de Kardec.
Diferente de outras religiões que colocam como essencial para a salvação
(entenda-se liberdade com conhecimento) a freqüência exclusiva em suas fileiras,
a Doutrina Espírita mostra que o que interessa é a prática da caridade, seja ela
feita em que religião for. Jesus nunca disse que esta ou aquela doutrina deveria
ser seguida. Mas sim, resumiu a Lei e os profetas em: Amar a Deus sobre tudo e
ao próximo como a si mesmo. Este é o lema do Espiritismo:
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e
pelos esforços que faz para domar suas más inclinações". (Allan Kardec, E.S.E.,
XVII, 4).
Para encerrar, mostre ao público que nem Paulo, nem Jesus e muito menos a
Doutrina Espírita quer que sejamos santos. Os Espíritos superiores sabem de
nossas limitações e os ensinamentos cristãos são exatamente para ajudar-nos a
superá-los. O que se espera do verdadeiro espírita, ou cristão, que têm o mesmo
sentido, é o esforço constante em analisar-se moralmente. E sempre que se
perceber fora dos atributos que constituem a caridade, que erga a cabeça,
recomece novamente o caminho, sem desesperos ou pressa, mas a passos firmes e
corajosos.
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